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E se você precisar menos de um plano de saúde?


Resumo
Hoje deve ocorrer a votação de uma nova legislação para o IPE Saúde, na assembleia legislativa do Rio Grande do Sul. A proposta está gerando polêmica devido ao aumento das contribuições. 
Chama minha atenção a certeza de que em algum momento as pessoas precisarão de um plano de saúde, mas e se a dependência desses planos pudesse ser reduzida através do uso efetivo da atividade física e do exercício como ferramenta de prevenção de doenças. 
A importância do exercício para a saúde é destacada desde a antiguidade. Além disso, atualmente são muitas as evidências científicas que apontam para os benefícios da atividade física na prevenção de inúmeras doenças. Também é importante mencionar o impacto positivo do exercício na redução do estresse e da ansiedade. 
Se focarmos no combate ao sedentarismo e na prática regular de atividade física teremos um grande possibilidade de melhorar a saúde e reduzir a dependência dos planos de saúde.

Tenho acompanhando toda a polêmica sobre o IPE Saúde, e me chama a atenção como todos tem uma grande certeza. A certeza de em algum momento de suas vidas precisarão, de forma inquestionável, de um plano de saúde.

Não quero parecer irresponsável e negar a importância de um plano de saúde. Mas e se as pessoas pudessem, de alguma forma, diminuir a sua dependência dos planos de saúde através do uso de uma ferramenta efetiva para se atingir a prevenção de doenças?

Essa ferramenta existe? A resposta é sim! E se chama atividade física e exercício.

A importância do exercício para a saúde tem sido relatada há séculos. Hipócrates, considerado por muitos a figura mais importante da medicina [1] já expressava essa ideia desde 450 a.C.:

Se pudesse dar a cada indivíduo a quantidade certa de nutrição e exercício, não muito pouco e não muito, teria encontrado o caminho mais seguro para a saúde.” [2]
Caminhar é o melhor remédio para o homem.” [2]
Todas as partes do corpo, se usadas com moderação e exercitadas através de trabalhos as quais estão acostumadas, tornam-se saudáveis, bem desenvolvidas e envelhecem lentamente. Mas se elas não são usadas e permanecem ociosas, se tornam susceptíveis às doenças, à defeitos no crescimento e envelhecem rapidamente.” [3]
Se houver qualquer deficiência na alimentação e na prática de exercícios o corpo vai cair doente.” [4]

A conclusão de um extenso trabalho [5] publicado em 2012 deixa claro como esse conceito da atividade física e exercício são fundamentais para a saúde nos dias de hoje, ela afirma:

Atividade física, alimentação e reprodução são alguns dos requisitos mínimos para a vida. Eles não evoluíram como opções, mas como requisitos para a sobrevivência individual e da espécie. Os seres humanos têm agora uma escolha de não ser fisicamente ativos. As provas científicas conclusivas, esmagadoras, em grande parte ignoradas e não priorizadas, indicam a inatividade física como a causa primária e real da maioria das doenças crônicas. Assim, a saúde em longo prazo não parece possível se desconsiderarmos a atividade física como uma necessidade para a sobrevivência imediata. As evidências abrangentes estabelecem claramente que a falta de atividade física afeta quase todas as células, órgãos e sistemas do corpo causando disfunções e morte acelerada. A natureza multifatorial maciça da disfunção causada pelo sedentarismo significa que, assim como alimentos e reprodução permanecem como requisitos para propiciarem a existência humana em longo prazo, a atividade física também é um requisito para maximizar a saúde e a expectativa de vida. A abordagem terapêutica cientificamente válida das disfunções do sedentarismo é a prevenção primária com a própria atividade física.

Existem evidências suficientes para considerarmos que a aptidão cardiorrespiratória gerada pelo exercício seja uma ferramenta de prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares [6,7]. O exercício quando realizado em intensidade e volume adequado é capaz de auxiliar na diminuição da quantidade de gordura visceral, da obesidade e do risco de diabetes tipo 2 [8].

O papel preventivo da atividade física pode ser estendido para alguns tipos de câncer. A associação é mais forte nos homens do que nas mulheres para o câncer do cólon, assim como para as mulheres que já estão na menopausa do que para aquelas que ainda mantêm a menstruação para o câncer da mama. A evidência sugere que a atividade física provavelmente reduz o risco de câncer do endométrio, de pulmão, de cólon, de mama e de próstata [9]. A análise de diferentes trabalhos observacionais [10] que incluíram 1.500.000 pessoas demonstrou que a atividade física pode reduzir o risco de câncer de estômago. Já para o câncer do pâncreas atividade física apresenta uma capacidade protetiva fraca [11].

A osteoporose e fraturas relacionadas resultam em grandes custos para os indivíduos e para a sociedade, além do aumento da morbidade e mortalidade. A atividade física é uma estratégia viável para a prevenção e para o tratamento da redução da massa óssea [12].

As informações citadas até aqui apoiam o papel que a inatividade física desempenha no desenvolvimento de doenças crônicas e morte prematura. Existem provas da eficácia da atividade física regular na prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, hipertensão, obesidade e osteoporose [13]. Essas evidências também apoiam uma redução de 50% no risco de morte causada por diferentes doenças [13].

O exercício físico também apresenta influência sobre o estresse e a ansiedade. Um trabalho que analisou 7 estudos experimentais demonstrou que o Qigong, uma modalidade chinesa de exercício, é capaz de reduzir o estresse e a ansiedade de adultos saudáveis [14].

Estas informações ilustram a importância do combate ao sedentarismo, da prática de atividade física, do aprimoramento da aptidão cardiorrespiratória e da força misucular através da participação em programas de treinamento para a melhora da saúde e da redução de morte prematura.  As autoridades de saúde pública e as agências de financiamento deveriam considerar como vital a tarefa de incentivar efetivamente que a população em geral pratique exercícios ou qualquer tipo de atividade física, isso é sem dúvida uma questão crucial.

Se você transformar a atividade física e o exercício como parte integrande da sua vida, tenha certeza de que sua dependência de qualquer plano de saúde será significativamente menor.

Grande abraço, Carlinhos

Referências
[12] Carter MI, Hinton OS. 2014. Physical activity and bone health.
[13] Darren ER, Warburton. 2014. Health benefits of physical activity: the evidence.

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